17 de junho
de 2015
Dentre os primeiros filmes que eu vi no meu vídeo
cassete, um CCE de uma cabeça (talvez você não faça ideia do que isso
signifique), foi Jurassic Park . Naquela época demorava uns aninhos até um
filme sair do cinema e chegar na locadora. Ao ver pela primeira vez aqueles
dinossauros eu tive a reação que qualquer criança teria: Eu fiquei aterrorizado!
Me lembro de fugir para a cozinha toda vez que aparecia um Tiranossauro ou um
velociraptor, mas ficava encantado com surgia na tela um Brachiossauro. Daí em
diante começou uma paixão que não teve fim. Queria saber tudo sobre dinossauros,
desenhar, brincar de ser um, brincar de caçar dinossauros... Meu avô tinha uma
coleção de revistas chamada “Os bichos” e tinha duas edições especiais sobre
dinossauros que eu devorei, redevorei, aprendi todas as informações (ali nascia
um nerd) e copiei todos os desenhos.
(Revista “Os Bichos”, da editora Abril)
(Dinossauros! – Tinha umas ilustrações
iradas)
Quando entrei hoje no cinema
para ver Jurassic World, entravam por aquelas portas duas pessoas: o Senden criança,
nerd, que sabia o nome de vários dinossauros, colecionava (digo, coleciono)
dinossauros de plástico, via filmes, desenhos, livros, revistas e era tachado
de estranho pelas garotas do colégio por brincar de jurassic park no recreio; e
o Senden estudante de biologia, chato, reclamão, que desistiu (por hora talvez)
de ser um paleontólogo e que quer que tudo tenha um sentido biológico
extremamente exato aos livros acadêmicos. Depois de um tempo é impossível
desligar o botão “biólogo” e aceitar as coisas numa boa, pelo menos eu não
consigo mais desativar esse modo. As chances de eu assistir a Jurassic World e
sair de lá frustrado, enquanto eu deveria era aproveitar o filme e curtir, eram
grandes. A começar pelo trailer: dinossauros sem penas? Velociraptors
domesticados? Não iria aparece o Dr. Alan Grant ? (Lágrimas). Mas a criança
nerd que mora em mim vibrou de alegria ao saber que seria a direção do
Spilberg, que teria a canção tema do John Williams e venhamos e convenhamos,
pode parecer loucura, mas andar de moto em meio a Velocirapors é super badass.
(Vai dizer que não é boladíssimo ?)
[Alerta de Spoiler – daqui pra frente
é por sua conta e risco]
Logo na cena inicial vemos um pé de um dinossauro, mas na
verdade era uma ave, que não deixa de ser um dinossauro. Eu achei a sacada
genial! Todo mundo no cinema achou que já era um dino aparecendo na tela, e
quando se mostrou ser um passarinho todo mundo soltou um “Ahhh”, do tipo: “Me
enganaram, malandrinhos”, mas o biólogo abriu um sorriso e deixou escapar um
“Genial!”. Porque, sim, aves são dinossauros, são um grupo de Terópodes
derivados, com pescoço em forma de S, ossos ocos e pés com 3 dedos. Não te
lembra uma galinha?
(Você nunca mais vai ver seu nugget do
mesmo jeito)
Aí o filme vai se desenrolando e tal,
até que aparecem os portões do primeiro filme, e eu abri as torneiras oculares.
Não temo como não se emocionar, foi uma das minhas inspirações para que eu me
tornasse um biólogo (snif, snif). E caramba, o PARQUE ESTÁ ABERTO! Era o que
deveria ter sido, um parque de diversões com várias atrações legais: um safári
com dinossauros, descer de kaiak por um rio cheio de dinos, um parque aquático
com um Mosassauro fingindo ser a Shamu (Spielberg usando um tubarão branco para
alimentar um dinossauro, minha cabeça explodiu), e UMA FAZENDINHA COM FILHOTES
onde você pode os alimentar e montar neles *-*
(Sabe aquele canário que seu avô tem
na gaiola? Trate-o com respeito)
Quanto aos raptores domesticados uma coisa me chamou
muita atenção, o personagem Vic Hoskin (ou seria Wilson Fisk?) dá a ideia para
o Owen (Chris Pratt), de sacrificar os velociraptors mais agressivos e deixar
reproduzir apenas os mais leais aos comandos. O starlord ri e ignora, mas foi
uma ideia fantástica. Aliás, foi assim que nossos antepassados domesticaram os
lobos, reproduzindo os mais mansos e sacrificando ou expulsando dos acampamentos
os mais agressivos, e temos hoje o melhor amigo do homem, o Playstation 4
cachorro. O Mosassauro, que não é um dinossauro e sim um réptil aquático
primitivo, me incomodou.
(Mosassauro – Não é dino, é um calango
d’água)
Se todos os dinos são feitos a partir do sangue retirado
do âmbar, porque diabos um mosquito picou um bicho marinho? Ele entrou na água
para sugar sangue? “Ah, mas tu é chato pra cacete, o bicho deveria estar
boiando, encalhou em alguma praia ou coisa assim” Ok, ok, vamos tentar aceitar
essa suposição. Ainda temos outros dinos que não são dinos (saudades lógica), o
dimorfodonte e o pteranodonte, no filme estão presos em um lugar chamado
“Aviário”. Faz sentido pra você ? Como essas criaturas não são dinossauros, não
são parentes das aves. Na cena em que
eles aparecem é mostrado os pteranodontes mergulhando para capturar a sua
presa, o que lembra bastante aves marinhas, achei sensacional essa cena.
Acredita-se que eles se alimentavam de peixes, então deu pra imaginar como eles
deveriam capturar suas vítimas.
(Nesse aviário você não vai encontrar promoção de coxa e
sobre coxa)
Voltando ao mosquito, seria impossível retirar
DNA do sangue de dinossauros encontrado em um mosquito preservado em âmbar com
mais de 65 milhões de anos. O DNA, molécula que carrega toda a informação
genética dos seres vivos, é uma molécula muito frágil, formada por uma dupla
fita hélice com bases nitrogenadas A-T; C-G (Adenina-Timina; Citosina –
Guanina) que formam os genes. Metade do DNA se perde a cada 500 anos, dá pra
imaginar que não há muita coisa (leia-se nada) de DNA depois de 65 milhões de
anos ou mais. E mesmo que houvesse, completar os fragmentos com DNA de rãs
africanas, como nos é explicado no primeiro filme da franquia, daria em
qualquer coisa, menos em um dinossauro.
(Olá, amiguinhos. Quem esta pronto
para ser devorado hoje?)
“Mas e as penas, eu sei que
dinossauros têm penas, não me engane”, sim padawan, dinos tem penas, descoberta
essa feita no Sec. 21 pelo Paleontólogo Xing Xu, dá pra perdoar o filme de
1993, mas e o de 2015? Há uma cena onde o Sr. Musrani, dono do novo parque, e o
geneticista Woo conversam, e no meio da conversa o geneticista diz que todos os
dinos são alterados de certa forma dar medo, para serem bonitões e ou
aterrorizadores e vender ingressos. Ele mesmo diz que os dinos do parque são tão
alterados que não tem nada a ver com os dinos que foram extintos. Justifica,
afinal, um monstrão rugindo cheio de dentes assusta mais e atrai mais público
do que um galinhão (ou será que não ?).
E com isso temos a estrela do
filme. Eu juro pra vocês que eu torci o nariz bem torcidinho quando soube que o
Indominous Rex seria um dinossauro híbrido de T-Rex, Velociraptor, Lula e Sapos
voadores (WTF !?). Maaaaaas, também há uma explicação que distorceu meu nariz
um pouquinho. No filme mostra que as pessoas já estão acostumadas com dinos,
que não há mais nada de novo a ser visto e o publico esta enjoando. Então eles
tentam criar uma nova atração, um T-rex hibridizado com um velociraptor, com
abeliossauro, carnatossauro, majungassaruro, rugops e gigantossauro . Uma
feijoada de lagartões. Para aguentar o calor da América central, genes de sapos
voadores (não mané, eles não voam, mas planam usando as membranas entre os dedos), que lhes conferem a capacidade de resistir ao clima quente da região,
são inseridos na nova atração, o que leva também a esse novo dino não emitir
ondas de infravermelho, e genes de lula para ajudar no metabolismo, que deu de
bônus a capacidade de camuflagem, ou seja, não jogaram tudo em um
liquidificador e rolou uma vitamina, apenas uma inserção de genes específicos
para que o novo “Dino” pudesse suportar as condições climáticas da América
Central e ter um metabolismo menos acelerado e talvez assim durar por muitos
ano. A osteoderme do Indominus foi feita graças a genes de abeliossauros
(informação dada no site do filme). No final das contas é um carnaval, nem da
pra considerar o Indominus como um dino, apenas um “item” novo para o parque. Doideira
? Não, já fazemos isso há muito tempo, com plantas na agricultura e a micro
injeção pronuclear em mamíferos, onde se pode inserir sequencias longas de DNA
em um embrião recém-fertilizado. O próprio Dr. Woo diz que as pesquisas do
parque estão tão avançadas que eles não dependem mais dos mosquitos em âmbar.
(lula e sapo voador misturado com
velociraptor e Tiranossauro – Deveria ter o símbolo de transgênico na jaula).
Enfim, Jurassic World é um bom filme,
sim um bom filme. Não teve a maior estreia de todos os tempos atoa. Duas horas
de filme e em nenhum momento eu me senti entediado, pelo contrário, fiquei
preso do início ao fim. Vários easter eggs ao longo do filme (duvido você
reconhecer todos) e cenas memoráveis como a do primeiro centro de visitantes ou
da T-Rex (lembrando que todos os bichos do parque são fêmeas. Girl –Dino-
Power) voltando a ser uma badass e fechando na porrada junto com a velociraptor
Blue pra cima do Indominous Rex. Saí do cinema feliz, feliz como criança nerd
que eu ainda sou e feliz como biólogo que eu estou me tornando. Por quê? Porque
esse futuro biólogo aqui só é o que é graças a Jurassic Park, e foi incrível
voltar à Ilha Nublar outra vez. O parque está aberto, parece que não aprenderam
a lição ainda, para a minha sorte :)
Bibliografia:
Nerdologia – 57: https://www.youtube.com/watch?v=I4_L5y6GU-w
Bibliografia:
Nerdologia – 57: https://www.youtube.com/watch?v=I4_L5y6GU-w
http://biologia-molecular.info/dna.html
http://www.paleovertebrados.museunacional.ufrj.br/projetos_dinosbr_faq.html
http://www2.uol.com.br/sciam/reportagens/aplicacees_dos_animais_transgenicos_2.html
http://br.jurassicworldintl.com