terça-feira, 30 de junho de 2015

Jurassic World – Sobre crianças nerds e biólogos chatos, por R.D.Senden.

17 de junho de 2015


Dentre os primeiros filmes que eu vi no meu vídeo cassete, um CCE de uma cabeça (talvez você não faça ideia do que isso signifique), foi Jurassic Park . Naquela época demorava uns aninhos até um filme sair do cinema e chegar na locadora. Ao ver pela primeira vez aqueles dinossauros eu tive a reação que qualquer criança teria: Eu fiquei aterrorizado! Me lembro de fugir para a cozinha toda vez que aparecia um Tiranossauro ou um velociraptor, mas ficava encantado com surgia na tela um Brachiossauro. Daí em diante começou uma paixão que não teve fim. Queria saber tudo sobre dinossauros, desenhar, brincar de ser um, brincar de caçar dinossauros... Meu avô tinha uma coleção de revistas chamada “Os bichos” e tinha duas edições especiais sobre dinossauros que eu devorei, redevorei, aprendi todas as informações (ali nascia um nerd) e copiei todos os desenhos.


(Revista “Os Bichos”, da editora Abril)
            Também fui um colecionador do chocolate surpresa da Nestlé, que vinham com cartões de dinossauros. Por ser criança, os meus primos roubavam os meus todo o tempo, mas eu me vingava pegando escondido o álbum deles do Jurassic Park. Também li muito a coleção de revistas “Dinossauros!”, da editora Globo, que lia dos meus amigos já que eu era um menino pobre que não tinha dinheiro para comprar (poor boy).


(Dinossauros! – Tinha umas ilustrações iradas)
                Quando entrei hoje no cinema para ver Jurassic World, entravam por aquelas portas duas pessoas: o Senden criança, nerd, que sabia o nome de vários dinossauros, colecionava (digo, coleciono) dinossauros de plástico, via filmes, desenhos, livros, revistas e era tachado de estranho pelas garotas do colégio por brincar de jurassic park no recreio; e o Senden estudante de biologia, chato, reclamão, que desistiu (por hora talvez) de ser um paleontólogo e que quer que tudo tenha um sentido biológico extremamente exato aos livros acadêmicos. Depois de um tempo é impossível desligar o botão “biólogo” e aceitar as coisas numa boa, pelo menos eu não consigo mais desativar esse modo. As chances de eu assistir a Jurassic World e sair de lá frustrado, enquanto eu deveria era aproveitar o filme e curtir, eram grandes. A começar pelo trailer: dinossauros sem penas? Velociraptors domesticados? Não iria aparece o Dr. Alan Grant ? (Lágrimas). Mas a criança nerd que mora em mim vibrou de alegria ao saber que seria a direção do Spilberg, que teria a canção tema do John Williams e venhamos e convenhamos, pode parecer loucura, mas andar de moto em meio a Velocirapors é super badass.

(Vai dizer que não é boladíssimo ?)

[Alerta de Spoiler – daqui pra frente é por sua conta e risco]

Logo na cena inicial vemos um pé de um dinossauro, mas na verdade era uma ave, que não deixa de ser um dinossauro. Eu achei a sacada genial! Todo mundo no cinema achou que já era um dino aparecendo na tela, e quando se mostrou ser um passarinho todo mundo soltou um “Ahhh”, do tipo: “Me enganaram, malandrinhos”, mas o biólogo abriu um sorriso e deixou escapar um “Genial!”. Porque, sim, aves são dinossauros, são um grupo de Terópodes derivados, com pescoço em forma de S, ossos ocos e pés com 3 dedos. Não te lembra uma galinha?

             
  
(Você nunca mais vai ver seu nugget do mesmo jeito)

Aí o filme vai se desenrolando e tal, até que aparecem os portões do primeiro filme, e eu abri as torneiras oculares. Não temo como não se emocionar, foi uma das minhas inspirações para que eu me tornasse um biólogo (snif, snif). E caramba, o PARQUE ESTÁ ABERTO! Era o que deveria ter sido, um parque de diversões com várias atrações legais: um safári com dinossauros, descer de kaiak por um rio cheio de dinos, um parque aquático com um Mosassauro fingindo ser a Shamu (Spielberg usando um tubarão branco para alimentar um dinossauro, minha cabeça explodiu), e UMA FAZENDINHA COM FILHOTES onde você pode os alimentar e montar neles *-*

(Sabe aquele canário que seu avô tem na gaiola? Trate-o com respeito)

Quanto aos raptores domesticados uma coisa me chamou muita atenção, o personagem Vic Hoskin (ou seria Wilson Fisk?) dá a ideia para o Owen (Chris Pratt), de sacrificar os velociraptors mais agressivos e deixar reproduzir apenas os mais leais aos comandos. O starlord ri e ignora, mas foi uma ideia fantástica. Aliás, foi assim que nossos antepassados domesticaram os lobos, reproduzindo os mais mansos e sacrificando ou expulsando dos acampamentos os mais agressivos, e temos hoje o melhor amigo do homem, o Playstation 4 cachorro. O Mosassauro, que não é um dinossauro e sim um réptil aquático primitivo, me incomodou.

(Mosassauro – Não é dino, é um calango d’água)

Se todos os dinos são feitos a partir do sangue retirado do âmbar, porque diabos um mosquito picou um bicho marinho? Ele entrou na água para sugar sangue? “Ah, mas tu é chato pra cacete, o bicho deveria estar boiando, encalhou em alguma praia ou coisa assim” Ok, ok, vamos tentar aceitar essa suposição. Ainda temos outros dinos que não são dinos (saudades lógica), o dimorfodonte e o pteranodonte, no filme estão presos em um lugar chamado “Aviário”. Faz sentido pra você ? Como essas criaturas não são dinossauros, não são parentes das aves.  Na cena em que eles aparecem é mostrado os pteranodontes mergulhando para capturar a sua presa, o que lembra bastante aves marinhas, achei sensacional essa cena. Acredita-se que eles se alimentavam de peixes, então deu pra imaginar como eles deveriam capturar suas vítimas.
   
           
                (Nesse aviário você não vai encontrar promoção de coxa e sobre coxa)
  
Voltando ao mosquito, seria impossível retirar DNA do sangue de dinossauros encontrado em um mosquito preservado em âmbar com mais de 65 milhões de anos. O DNA, molécula que carrega toda a informação genética dos seres vivos, é uma molécula muito frágil, formada por uma dupla fita hélice com bases nitrogenadas A-T; C-G (Adenina-Timina; Citosina – Guanina) que formam os genes. Metade do DNA se perde a cada 500 anos, dá pra imaginar que não há muita coisa (leia-se nada) de DNA depois de 65 milhões de anos ou mais. E mesmo que houvesse, completar os fragmentos com DNA de rãs africanas, como nos é explicado no primeiro filme da franquia, daria em qualquer coisa, menos em um dinossauro.

(Olá, amiguinhos. Quem esta pronto para ser devorado hoje?)
                
“Mas e as penas, eu sei que dinossauros têm penas, não me engane”, sim padawan, dinos tem penas, descoberta essa feita no Sec. 21 pelo Paleontólogo Xing Xu, dá pra perdoar o filme de 1993, mas e o de 2015? Há uma cena onde o Sr. Musrani, dono do novo parque, e o geneticista Woo conversam, e no meio da conversa o geneticista diz que todos os dinos são alterados de certa forma dar medo, para serem bonitões e ou aterrorizadores e vender ingressos. Ele mesmo diz que os dinos do parque são tão alterados que não tem nada a ver com os dinos que foram extintos. Justifica, afinal, um monstrão rugindo cheio de dentes assusta mais e atrai mais público do que um galinhão (ou será que não ?).               
                E com isso temos a estrela do filme. Eu juro pra vocês que eu torci o nariz bem torcidinho quando soube que o Indominous Rex seria um dinossauro híbrido de T-Rex, Velociraptor, Lula e Sapos voadores (WTF !?). Maaaaaas, também há uma explicação que distorceu meu nariz um pouquinho. No filme mostra que as pessoas já estão acostumadas com dinos, que não há mais nada de novo a ser visto e o publico esta enjoando. Então eles tentam criar uma nova atração, um T-rex hibridizado com um velociraptor, com abeliossauro, carnatossauro, majungassaruro, rugops e gigantossauro . Uma feijoada de lagartões. Para aguentar o calor da América central, genes de sapos voadores (não mané, eles não voam, mas planam usando as membranas entre os dedos), que lhes conferem a capacidade de resistir ao clima quente da região, são inseridos na nova atração, o que leva também a esse novo dino não emitir ondas de infravermelho, e genes de lula para ajudar no metabolismo, que deu de bônus a capacidade de camuflagem, ou seja, não jogaram tudo em um liquidificador e rolou uma vitamina, apenas uma inserção de genes específicos para que o novo “Dino” pudesse suportar as condições climáticas da América Central e ter um metabolismo menos acelerado e talvez assim durar por muitos ano. A osteoderme do Indominus foi feita graças a genes de abeliossauros (informação dada no site do filme). No final das contas é um carnaval, nem da pra considerar o Indominus como um dino, apenas um “item” novo para o parque. Doideira ? Não, já fazemos isso há muito tempo, com plantas na agricultura e a micro injeção pronuclear em mamíferos, onde se pode inserir sequencias longas de DNA em um embrião recém-fertilizado. O próprio Dr. Woo diz que as pesquisas do parque estão tão avançadas que eles não dependem mais dos mosquitos em âmbar.  

(lula e sapo voador misturado com velociraptor e Tiranossauro – Deveria ter o símbolo de transgênico na jaula).

Enfim, Jurassic World é um bom filme, sim um bom filme. Não teve a maior estreia de todos os tempos atoa. Duas horas de filme e em nenhum momento eu me senti entediado, pelo contrário, fiquei preso do início ao fim. Vários easter eggs ao longo do filme (duvido você reconhecer todos) e cenas memoráveis como a do primeiro centro de visitantes ou da T-Rex (lembrando que todos os bichos do parque são fêmeas. Girl –Dino- Power) voltando a ser uma badass e fechando na porrada junto com a velociraptor Blue pra cima do Indominous Rex. Saí do cinema feliz, feliz como criança nerd que eu ainda sou e feliz como biólogo que eu estou me tornando. Por quê? Porque esse futuro biólogo aqui só é o que é graças a Jurassic Park, e foi incrível voltar à Ilha Nublar outra vez. O parque está aberto, parece que não aprenderam a lição ainda, para a minha sorte :)

Bibliografia:

               Nerdologia – 57: https://www.youtube.com/watch?v=I4_L5y6GU-w
http://biologia-molecular.info/dna.html
http://www.paleovertebrados.museunacional.ufrj.br/projetos_dinosbr_faq.html
            http://www2.uol.com.br/sciam/reportagens/aplicacees_dos_animais_transgenicos_2.html
            http://br.jurassicworldintl.com